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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Hipnose

: O Que é Hipnose
Autor: Texto extraído do site do Instituto Milton Erickson

Milton H. Erickson descreveu o transe hipnótico como um estado de sugestibilidade intensificado artificialmente e semelhante ao sono, no qual parece haver uma dissociação normal dos elementos conscientes e inconscientes da psique.
Lembrando a relação entre a hipnose com a psicoterapia, Erickson afirmou que “o transe é um período durante o qual as limitações que uma pessoa tem, no que diz respeito à sua estrutura comum de referência e crenças, ficam, temporariamente, alteradas, de modo que o paciente se torna receptivo aos padrões, às associações e aos moldes de funcionamento que conduzem à solução de problemas”.
Para a maioria dos membros do Instituto Milton Erickson do E.S. o transe hipnótico é um estado emocional especial no qual a pessoa fica mais receptiva aos estímulos que desencadeiam processos saudáveis de mudança.

Fenômenos hipnóticos do dia a dia

Um grande argumento da idéia do transe hipnótico como experiência naturalística e comum a todas as pessoas é a ocorrência dos chamados fenômenos hipnóticos do dia a dia. São fatos e circunstâncias que acontecem à parte da situação específica de indução hipnótica, mas que em nada se diferenciam da experiência vivenciada a partir do trabalho técnico de um hipnólogo.
Nota-se, por exemplo, o fenômeno hipnótico da regressão de idade (sentimento de reviver por sentimentos, imagens, etc.) em pessoas que experimentam situações como ser criticadas, participando de uma diversão engraçada e infantil, estar junto aos pais ou examinar álbuns de fotografia.
A progressão de idade, outro fenômeno hipnótico, pode ser vivenciada no planejamento das férias, numa visita a berçários ou em aniversários.
A amnésia ocorre comumente: quando esquecemos algo e dizemos que está “na ponta da língua”, na inabilidade de se encontrar objetos pessoais, nas apresentações sociais (esquece-se nomes), quando se procura algo e de repente se esquece o que, etc.
O contrário, a hipermnésia, também é comum no dia a dia: pode-se recordar de repente a sensação vívida de se estar apaixonado, ou a lembrança em detalhes, tipo câmera lenta, de um acidente ou episódio.
Também são comuns as “fugas” da atenção consciente, quando se assiste televisão ou cinema, ou mesmo durante o ato de dirigir e até mesmo durante um caminhar.

Os Mitos e As Dúvidas
A expressão de poderosos recursos normalmente inconscientes possibilitada pela indução hipnótica, juntamente com sua exploração durante muitas décadas (e de certa forma ainda hoje) como técnica de exibição pública, criou no imaginário popular idéias desprovidas de rigor.
Conceitos equivocados, crenças desvirtuadas e vinculações mal engendradas da hipnose com práticas de fundamentos diversos, ainda permanecem em destaque. Listamos abaixo alguns dos mitos e das dúvidas mais comuns:

1. O poder especial do hipnotizador

Idéia provavelmente oriunda dos tempos em que Mesmer vinculou o transe hipnótico àquilo que chamou de magnetismo animal. Por muito tempo (e de certa forma ainda hoje) a prática da chamada “hipnose de palco” buscou vincular a indução com o poder pessoal especial dos demonstradores. Sendo a hipnose um fenômeno natural, está ligada àquilo que acontece com o hipnotizado, e não com um suposto poder do hipnotizador.
2. Quem pode ser hipnotizado

Como fenômeno cotidiano e natural, o transe acontece em todas as pessoas. O transe induzido, no entanto, encontra resistência em uma parcela das pessoas. De acordo com os critérios que se adotam para avaliar um estado hipnótico, este percentual estaria situado entre 50% e 99% da população. De toda forma, é consenso que algumas pessoas são refratárias (aparentemente não-hipnotizáveis) a alguns hipnotizadores ou a alguns métodos de indução.
3. O sono e a hipnose

O transe da hipnose não é um estado de sono, apesar da aparência sob o ponto de vista físico. Mentalmente a pessoa está, de forma especial, alerta e concentrada.
4. Hipnose e relaxamento

As técnicas de indução mais praticadas se baseiam no relaxamento corporal, mas o transe pode ser conseguido através de outras formas, principalmente com métodos ericksonianos indiretos.
5. Hipnose e terapia

Hipnose não é terapia, mas apenas um instrumento para se atingir estado emocional de disponibilidade adequada para a reflexão terapêutica. Mesmo assim, há autores que defendam a idéia de que o estado de relaxamento e até mesmo a auto-hipnose são benéficos terapeuticamente por si mesmos.
6. Perigos da hipnose

Por se utilizar de técnicas que expõem recursos inconscientes poderosos, a hipnose exige formação, preparo e habilitação reconhecidos por instituições formais legitimadas que cuidam da pesquisa e da difusão desta matéria, como por demais assim o exigem outros campos das ciências humanas.
7. Comando do hipnotizador sobre o hipnotizado

Tema polêmico, que tem defesas para pontos contraditórios. Há pesquisadores que alegam terem comprovado que através de sugestões pós-hipnóticas pode-se induzir atos que uma pessoa, a partir de seus hábitos e valores naturais, não cometeria. Outros defendem o absolutismo de uma intenção positiva do inconsciente que invalidaria sugestões que trazem embutidos riscos ao próprio hipnotizado ou a outras pessoas. A instância mais profunda da mente, no contexto ericksoniano chamada também de mente inconsciente, protege a pessoa de tudo aquilo que ele não deseja fazer. O sujeito hipnótico pode ou não acatar aquilo que está ouvindo durante um transe.
8. Não “retornar” de um transe

É comum algumas pessoas não retornarem imediatamente ao estado natural de vigília no final de um transe, quando assim são solicitadas. Podem demorar algum tempo e, em alguns casos, é necessária uma sugestão para que transformem o transe em sono fisiológico, depois do qual acordam naturalmente.
9. A regressão de idade existe?

A transposição dos limites do tempo e do espaço é uma das muitas características fenomenológicas do transe hipnótico. Isto permite, quando se leva também em conta a hipermnésia, que se revivifique de maneira intensa fatos já ocorridos e que normalmente não seriam lembrados. No entanto, torna-se importante destacar a pesquisa transderivacional como um dos pilares da dinâmica funcional da mente (lacunas no raciocínio lógico ou na lembrança passada são sempre preenchidas por conteúdos coerentes com a estrutura da personalidade do indivíduo). Assim sendo, abre-se a possibilidade de interpretar-se descrições de períodos anteriores da vida como “invenções” (sem o conteúdo de má fé) da pessoa hipnotizada. Assim também se explicariam as chamadas “regressões a vidas passadas”. As sensações desconfortáveis das estruturações individuais neuróticas, sem uma explicação racional para seus portadores, levam à busca de “explicações” em períodos anteriores da existência e em outras existências. Acrescenta-se aqui uma forte influência da crença religiosa-espiritual de reencarnação. Também destaca-se a redução do senso crítico lógico e a tendência à dramatização da pessoa em transe, que faz com ela aceite mais facilmente uma sugestão de buscar respostas em períodos passados. Pesquisas que buscavam rigor na comprovação da “regressão a vidas passadas” mostraram que, com o mesmo grau de dificuldade, consegue-se induzir uma “progressão a vidas futuras”, com descrições detalhadas de períodos de tempo muito além do nosso. Conclui-se, a partir disto, que as informações fornecidas durante um transe hipnótico devem conter um peso apenas parcial em sua correlação com os fatos verdadeiros.

Aplicações da Hipnose

A crescente aplicação clínica da hipnose tornou comum a confusão entre esta técnica e a psicoterapia. Na realidade, o transe induzido tem sido cada vez mais utilizado dentro de processos terapêuticos, não só no campo dos tratamentos psicológicos propriamente ditos, mas também em outras áreas da medicina, da educação, da odontologia, das artes, dos esportes, etc.

Podemos citar o uso da hipnose em cardiologia, para aliviar taquicardias sinusais em pessoas nervosas, na dor pós-infarto e na reabilitação pós-infarto, assim como em diversos tipos de dores precordiais e também na hipertensão essencial.

Na neurologia e na ortopedia utiliza-se a hipnose nos torcicolos, nas dores lombares, em outras dores tensionais da coluna, na dor dos membros-fantasmas após amputação, em certas parestesias, nas cefaléias e nas insônias.

No campo da gastroenterologia haveria indicação para tratamento das náuseas e vômitos, nas gastrites e úlceras gastroduodenais, em algumas hemorragias digestivas, na colite ulcerativa, na inapetência, em dores abdominais de origem psicossomática, em casos de anorexia e perversões do apetite e nas aerofagias.

Cita-se também em urologia, ginecologia e obstetrícia, o uso da hipnose em alguns casos de disúria, na polaciúria, na enurese noturna, na impotência, na ejaculação precoce, na anorgasmia, na dispareunia, na não aceitação da gravidez, na hiperemese gravídica, na redução da dor do parto, nas dismenorréias e até na facilitação do exame ginecológico comum.

Outro campo médico que pode aplicar a hipnose é a otorrinolaringologia, para examinar o cavum em pessoas mais tensas ou hipersensíveis, em certas hipoacusias e disfonias, e na gagueira.

Na dermatologia a utilidade poderia ser no tratamento dos eczemas e pruridos em geral, na psoríase, nas verrugas juvenis, na ictiose, nas peladas e na hiperidrose.
No campo da alergia, destaca-se a contribuição da hipnose no tratamento da asma e da bronquite crônica, na urticária e nos eczemas alérgicos.

Em cirurgia geral para a redução do medo pré-operatório, para diminuir certas complicações pós-operatórias e como método anestésico de urgência.

Pode-se também citar o uso em casos de queimaduras, para facilitar os curativos e para melhorar o prognóstico, além de reduzir a dor.

Na odontologia para o preparo do paciente com medo, na hiper-sialorréia, nas náuseas excessivas, para diminuição das hemorragias, para que o paciente mantenha a boca bem aberta, para melhor aceitação de prótese e no bruxismo.

Na área educacional, existem estudos que mostram a utilização da hipnose para a melhora do aprendizado e da memorização. No campo dos esportes para eliminar tensões e angústias, aumentando o rendimento. Até mesmo no campo jurídico, com um aumento da memória das testemunhas e dos acusados com relação a fatos delituosos.

Obviamente, qualquer indicação para uso da hipnose deve ser sempre considerada como relativa, já que esta técnica não se coloca como panacéia para efetivação de milagres.

Fonte: Instituto Milton Erickson